De 2010 a 2016, criamos e dirigimos o projeto Común Tierra, documentando ecovilas em toda a América Latina, junto a outras iniciativas comunitárias sustentáveis.
Visitando mais de 150 iniciativas, participando de muitas atividades e conversando com fundadores e membros dos projetos, desenvolvemos um profundo apreço pelo modelo das Ecovilas como uma parte importante da evolução coletiva de nossas sociedades em direção a um futuro regenerativo. Ao mesmo tempo, testemunhamos em primeira mão muitos dos maiores desafios na concepção, implementação e sustentação das Ecovilas. Mesmo com esses desafios, vemos grande valor nas contribuições que o movimento das Ecovilas pode fazer para nossa sociedade em geral, como laboratórios vivos experimentais e incubadoras de tecnologias sociais entre tantas outras.
O movimento das Ecovilas identifica 4 áreas da sociedade que devem ser reimaginadas para exemplificar o “Ethos” das Ecovilas.
Essas 4 áreas são: Ecológica, Social, Econômica e Visão de Mundo.
Está claro que nossa cultura precisa de novos modelos para resolução de conflitos, participação, governança e tomada de decisões, restauração ecológica, produção de alimentos, gestão coletiva de espaços e recursos públicos e tantas outras áreas-chave de nossas vidas. A re-imaginação e redefinição de cada uma dessas áreas é uma tarefa extremamente complexa. A complexidade da mudança de cultura de que precisamos é tão grande que nenhum indivíduo, nem mesmo uma grande comunidade, pode juntar tantos quebra-cabeças diferentes simultaneamente.
O que constatamos na prática é que diferentes comunidades desenvolvem expertises próprias em áreas específicas, muitas vezes vivendo na vanguarda em uma ou várias áreas, ao mesmo tempo que deixam de inovar em outras, podendo até mesmo recair em padrões e velhos hábitos de nossa cultura dominante. Não vemos isso como uma indicação do “fracasso” das Ecovilas, mas sim um reflexo da dificuldade da tarefa proposta: é difícil incorporar um novo paradigma comunitário regenerativo!
Além disso, mesmo quando novos sistemas são implementados com sucesso, eles estão em constante evolução e mudança em relação às mudanças nas circunstâncias. Em suma, percebemos o quão grande é esse desafio que enfrentamos como humanidade, se realmente quisermos mudar nossa sociedade para uma cultura mais regenerativa que permita o florescimento da vida na Terra.
As Ecovilas sao sede de muitos cursos e vivencias que disseminam novas formas de viver e colaborar. EcoEscola El Manzano
À medida que vimos os desafios de implementar projetos comunitários, mesmo em pequena escala, passamos da fase de imaginar um mundo cheio de Ecovilas, para o reconhecimento de que as Ecovilas são apenas uma parte da mudança cultural necessária que esperamos ver no mundo. Percebemos que as Ecovilas servem como potentes centros educacionais e experiências vivas que podem catalisar mudanças culturais muito além das próprias comunidades. E que muitas das ideias e ferramentas desenvolvidas nesses espaços podem ser compartilhadas e aplicadas com grupos e coletivos ao redor do mundo afora das Ecovilas.
Entendendo mais sobre as Ecovilas…
será que é possível conceber o mundo inteiro como uma Ecovila?
De muitas maneiras, isso é verdade literalmente, embora seja um pouco difícil de entender conceitualmente. Vamos explorar essa ideia juntos.
Todos os seres humanos compartilham a biosfera. O ar que respiramos já foi respirado antes, por milhares de outras pessoas, animais e plantas, no grande ciclo do oxigênio e do dióxido de carbono. Há apenas um céu para todos nós. A água que bebemos já fez parte de rios, lagos, oceanos e, de fato, do corpo de outras pessoas, à medida que se move pelo ciclo planetário da água. A comida que comemos (que se transforma em nosso corpo) é composta de partículas que foram recicladas e reutilizadas milhões de vezes, desde o nascimento do nosso planeta.
O mesmo sol, a lua e as estrelas que brilham para mim…
brilham para toda a humanidade.
Todos nós compartilhamos as mesmas necessidades humanas básicas e dependemos dos mesmos sistemas vivos para sustentar a própria vida.
Uma arte/oferenda para a Terra durante um encontro de Ecovilas, na Ecovila Atlantida, Colombia
Se reconhecermos nossa interdependência, tanto uns com os outros quanto em nosso ambiente compartilhado, o próximo passo lógico é reconhecer que compartilhamos um lar comum, uma casa comum, nosso Planeta Terra. Sem negar a rica diversidade e heranças culturais específicas ao redor do mundo, podemos ver que somos, em um nível fundamental, uma grande comunidade.
Nossa comunidade da Terra é simplesmente grande demais para ser reunida em uma reunião de planejamento estratégico ou em um jantar. As Ecovilas sempre foram em “escala de aldeia,” em uma escala que a totalidade da comunidade é mais ou menos relacionável, cognoscível. Nunca teremos esse nível de intimidade com quase 8 bilhões de outras pessoas.
No entanto, visualizar nosso mundo inteiro como uma Ecovila pode fazer com que alguns de nossos problemas mais complexos pareçam mais relacionáveis.
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- Como estamos tratando nossos membros da comunidade?
- Como nossa comunidade está tratando seu meio ambiente?
- Que tipo de sistemas econômicos e sociais podemos construir para apoiar as comunidades a serem mais saudáveis e mais regenerativas?
- Que tipo de acordos precisamos criar para o coletivo?
- Como gerenciamos o poder e ranking em nossa comunidade?
- Como construímos confiança uns nos outros e nos comprometemos com o bem comum?
Essas questões estão no centro da vida em uma Ecovila, mas ganham um novo significado em um contexto mais amplo.
Se vemos o mundo inteiro como uma Ecovila, temos uma nova lente para perceber nossos desafios e novas possibilidades a considerar. A linguagem que usamos, as visões que temos, afetam nossa capacidade de agir de forma coerente, especialmente em tempos de crise. Os sistemas que administram nossa sociedade em geral hoje precisam urgentemente de uma nova visão, um novo sistema operacional baseado em novos metaforos e ideias.
Quando entendemos que somos parte de um organismo vivo, no qual somos interdependentes uns dos outros, nossas ações podem genuinamente ser mais direcionadas a uma cultura de colaboração e reciprocidade.
Então pergunte a si mesmo:
E se o mundo inteiro for uma Ecovila?
-Ryan e Leticia